Travelers Temporada 3: campo fértil para especulações

Este texto contém “spoilers” sobre praticamente toda a série Travelers. Esteja ciente disso antes de iniciar a leitura.

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Quando resenhei Travelers pela primeira vez tomei cuidado para não deixar a empolgação de fã falar alto demais. Afinal, eu tinha sido fisgado de jeito pela excelente produção, pelo roteiro coeso e interessante, pela atuação dos profissionais e principalmente pelo carisma dos personagens.

De lá até agora muita coisa aconteceu, incluindo a ameaça de não haver renovação da série para uma terceira temporada. Felizmente a Netflix atendeu aos apelos da audiência e produziu uma excelente nova temporada em que os personagens ganharam ainda mais profundidade, o drama principal da série — a destruição do mundo — ficou ainda mais complexo, e também onde os espectadores ganharam alguns mimos e surpresas nem sempre agradáveis.

Dentre todos os pontos fortes da terceira temporada de Travelers destaco:

  • a morte de David Mailer — o momento mais intragável para mim, particularmente;
  • o fato de Jeff Connicker ter morrido e seu corpo dado lugar a um viajante; e
  • o próprio Season Finale em si.

O Fim da Terceira Temporada

Particularmente não sou muito dado ao recurso de “resetar a linha do tempo” que volta e meia os roteiristas usam — e a impressão que tenho é que depois de fazer muita cagada este acaba sendo o único jeito de limpar a bagunça.

Entretanto, Travelers chegou a um ponto em que não havia mais a possibilidade de a série continuar sem uma cartada dessas. E a maneira como foi elaborada — tirando a chatice de o viajante 001 ficar trocando de corpo como quem troca de cueca — cumpre muito bem o papel de engajar o espectador e deixá-lo elucubrando, escrevendo, comentando com os amigos a respeito da série toda. 

Destinos dos Personagens

Não sei o restante da audiência da série, mas eu me importo muito mais com o destino dos personagens do que em saber se os Viajantes conseguiram (ou conseguirão) salvar a Humanidade de sua derrocada.

Assim, acho-me no direito de dizer que vai ser muito difícil ver os mesmos atores interpretando personagens diferentes – já que quando MacLaren interferiu nos eventos anteriores à chegada do Viajante 001 provavelmente modificou toda a possibilidade de os hospedeiros desprezíveis como o arrogante Trevor ou a debilitada Marcy virem a abrigar as consciências dos respectivos viajantes que aprendemos a apreciar – embora tenha sido um alívio quando Jeff Cormack deixou de existir.

Aliás, caso haja uma quarta temporada (espero que sim) eles podem até trocar todo o elenco, mantendo ou não os personagens. Afinal, quem vai lembrar que a Marcy é a Viajante 3569? Ou que McLaren é o Viajante 3468? Por mais que eu não vá gostar caso a história vá por este caminho, ele é totalmente válido.

E considerando os últimos instantes do último episódio da terceira temporada, quando aparece um terminal de computador anunciando que o programa “Viajantes” em sua versão 1 falhou e que a versão 2 já vai começar, é correto afirmar que as três primeiras três temporadas têm potencial para ser totalmente ignoradas daqui por diante, já que tudo o que assistimos seria apenas a representação de uma abstração existente apenas em um sistema de inteligência artificial que pode ou não ter relação com o que convencionamos chamar de realidade.

Marcy e David

As últimas cenas da terceira temporada, depois do reset proporcionado por McLaren, mostram Marcy ainda na condição de enfermeira, antes da tortura que a deixou mentalmente debilitada sentada em um ônibus ao lado do doce e carismático David, ambos indo trabalhar em um hospital numa zona “barra pesada” da cidade.

A questão é: apesar da importância da atração física, será que a enfermeira Marcy Warton tem condições de despertar no assistente social a mesma paixão que a Viajante 3569, médica do futuro, especialista em armas, artista marcial fodalhufa, chutadora de bundas de bandidos?

Grant e Kathryn McLaren

A despeito de o quão “melhor” o Viajante 3468 possa ser do que o verdadeiro e finado Grant McLaren, Kat não aceitou muito bem a mudança no homem com quem vivia.

Já o líder da equipe de viajantes não demorou muito a apaixonar-se e a amar verdadeiramente a mulher de seu hospedeiro, o que não foi suficiente para viverem um comercial de margarina.

Com a possibilidade de retornar no tempo, o Viajante 3468 escolher local e momento exatos em que ocorreria o primeiro encontro do casal McLaren, em 2001. Em vez de xavecar a beldade com jeito de riponga, como fez o verdadeiro agente do FBI, ele preferiu incentivá-la a dar uma segunda chance ao noivo campeão em atrasos, com o objetivo de proporcionar a ela a possibilidade de um relacionamento feliz com um homem que provavelmente seria apenas um humano comum.

Foi um gesto bacana, uma mostra de desprendimento, mas tudo indica que a pobre Kat deveria tentar a sorte no jogo e não no amor, afinal ela demonstra ter um fraco por homens que se atrasam para os compromissos e que priorizam o trabalho em vez da família (ela, no caso).

Assim, é possível que venhamos a ver o casal MacKat nas telinhas outra vez, caso a temporada 4 se desenvolva na linha do tempo recém inaugurada por McLaren ao voltar para 2001.

Múltiplas linhas do tempo

Se uma viagem para o passado fosse possível na “vida real”, cada mudança proporcionada pelo viajante implicaria a criação de uma nova linha do tempo, a partir daquele instante independente da linha do tempo “original”. Assim, haveria um paradoxo intrínseco na viagem no tempo: ao alterar um evento qualquer do passado provavelmente os desdobramentos seriam tais que impossibilitariam a existência do evento que ocasionou a viagem ao passado em si.

Usando o Diretor como exemplo: se o Programa Viajantes fosse bem sucedido então no futuro não haveria a necessidade de criar o Diretor, tampouco os viajantes precisariam voltar no tempo. Para a linha do tempo criada a partir do momento em que o futuro fosse “resolvido” então não haveria mais viajantes, Diretor, nada; mas ainda haveria uma linha do tempo paralela que continuaria com todos os problemas, e o Diretor continuaria mandando consciências para o XXI para tentar resolver isso daí.

Este é um dos motivos pelos quais não gosto de histórias que apelam para “modificar o passado”; o leitor (espectador, ouvinte) fica sempre à mercê das viradas de roteiro, precisando fazer concessões constantemente para as perdas e inconsistências de roteiros causadas justamente pela noção de que “pode ser uma outra linha do tempo”.

Quarta Temporada

Espero que haja uma quarta temporada de Travelers, pois realmente gosto muito da série.

E espero que deem um jeito de manter os personagens mais carismáticos, a despeito de o quão fácil seja “criar missões novas com novas equipes”.

Fora isso é cuidar para não ser sobrescrito!

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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