Uma História de Amor ou 7 Músicas para Ouvir Bêbado

Para esses dias em que nada mais é importante e nem gritar serve, você só quer ir pro bar e afogar a desgraçada da sua ex num copo de cachaça. É quando você entende que só o garçom é seu amigo de verdade.

Muita gente tem vários motivos pra afogar as mágoas na bebida. Essa é uma história que acontece todos os dias nesse país de muitos Josés e muitas Marias.

1. Como? — Paulo Diniz

É meu amigo. Não vai ter jeito. Ela foi mesmo embora com o instrutor de musculação que você jurava que era gay. Você chegou em casa e encontrou sua camisa do XV de Piracicaba jogada e o seu troféu de boliche numa caixa com a sua coleção de pornô, e um bilhete dizendo que acabou e não tem volta, pra você deixar a chave e o cheque do aluguel em cima da bancada. E você fica aí se perguntando “como vou deixar você se eu te amo?”

2. Pingos de Amor — Paulo Diniz

Você sai do apartamento desorientado. Não sabe para onde ir. Começa a chorar olhando a foto do dia em que vocês se amigaram, lá no Bar das Almas, na esquina da casa dela.

Aquela desgraçada partiu sem a menor consideração e você se arrepende de não ter tirado o bigode seboso que ela pediu tanto, cortado o cabelo e fechado mais de um botão da camisa.

Você sai andando a esmo e chega de novo ao Bar das Almas, e você vê a maldita na noite de karaokê dançando de rosto colado com aquele instrutor safado, usando aquela saia que você deu pra ela, aquela que tinha escrito “delícia” na bunda e é a que dá pra ver melhor a tatuagem que ela fez na lombar com o seu nome e que, no lugar, hoje ela exibe orgulhosa uma rosa bem grande com o nome do outro.

Você vê que perdeu tudo e a quer de volta. E começa a implorar pra que ela se lembre dos bons tempos.

3. Garçom — Reginaldo Rossi

Depois que ela foi embora com o amante novo, ficou só você e a sua dor. Você está sentado na mesa de metal com uma propaganda de cerveja que tem tanta história com o bar quanto o dono e você olha o pires com várias bandas de limão e pedaços de caju verde que o garçom pegou do cajueiro do vizinho pra ser o seu tira gosto.

Você olha a foto dela saindo da sua carteira e chora de novo sabendo que ela vai fazer amor com ele na sua cama que você nem terminou de pagar o crediário ainda.

O cantor da seresta está tocando só pra você, que é o único que está prestando atenção e fazendo vista grossa quando ele para a música no meio e toma uma meiota e volta pra terminar de cantar.

Você afaga o vira latas que se acomoda debaixo da sua mesa como se você precisasse de um amigo e só pudesse confiar nele e no garçom. Mais tarde, quando o garçom deitar você no chão, você vai saber que de frio não morre por que o cachorro vai lhe aquecer.

4. Dormi na Praça — Bruno e Marrone

Você acorda na praça em frente ao bar das almas e tem um guarda levando você preso por atentado violento ao pudor. É quando você percebe que dormiu enquanto mijava no pé de fícus e ainda tem o Zezinho pra fora.

Você tenta explicar que é só um caso de chifre e que aquela ingrata lhe pôs pra fora de casa e que você só queria ficar com ela e criar os meninos. E que ela não quer mais você e que ela era sua maior riqueza.

Ela não deu valor pra piscina de 1000 litros que você comprou e não quer mais a sua churrasqueira de bujão de gás que você acendia nos dias de jogo pros amigos, fazendo pagode e ela levando a cerveja.

Mas não tem acordo porque você ainda está chumbado da cachaça do dia anterior e o guarda leva você para a delegacia pra dividir uma cela 3×3 com vários bandidos de verdade.

5. E Agora, José? — Paulo Diniz

De repente você está na cela, bêbado, e não se importa de estar preso por que não tem pra onde voltar mesmo. Tem outro homem na sua cama.

O delegado diz que você tem direito a um telefonema e o homem apaixonado que você é, e sempre será, te obriga a ligar pra sua antiga casa e a sua mulher atende e você escuta aquela voz de cantora de forró que você sempre adorou.

Você diz que tá preso porque tava mijando na rua, pede pra ela ir te soltar. Ela diz que você é um cachorro. Não quer nem saber, vá ligar pras quengas com quem você anda que ela tem mais o que fazer.

Ela desliga na sua cara e você volta pra cela conduzido por um soldado que escutou a conversa e pergunta o que você vai fazer agora, pra quem você vai ligar, se existe alguém por quem você possa chamar.

Você diz que não tem mais ninguém. Está sem mulher, está sem carinho, se não aparecer no serviço não vai ter emprego e a única coisa que tem é o crediário das Casas Bahia, da compra de uma piscina inflável e um colchão onde a sua ex-mulher está dando para o instrutor de musculação, e que você sabe que ela só está com ele porque ele tem emprego fixo, mesmo você tendo vendido a Traxx pra ficar rico com a Telexfree enquanto ela vendia shake da Herbalife.

6. Pense em Mim — Leandro e Leonardo

Enquanto você conta sua história triste pro Minduim, um assassino de aluguel que se orgulha de só ter quatro mortes que são dele (as outras 8 são todas trabalho profissional), você sente aquele cheiro de Toque de Amor e vê os cabelos loiros da metade pra baixo e aquela frente única vermelha de malha que via sempre que saía pra trabalhar ou sentada no Bar das Almas tomando umas.

É Maristela, a vizinha. Você lembra que a Desgraçada sempre dizia que Maristela era uma mulher santa, pena que não conseguia arrumar um homem decente desde que o marido morreu, mas que pelo menos tinha tido a decência de deixar uma pensão boa pra coitada.

Você acha que Maristela quer ver você no lixo pra dar a notícia pra Desgraçada rir. O Delegado diz que você tá livre, que a madame veio se responsabilizar por você.

Você acha que a Desgraçada se arrependeu e mandou a vizinha pra lhe soltar sem o instrutor saber. Você sai cabisbaixo e se assusta quando Maristela toca sua mão e pergunta se você quer tomar um pingado com pão e você quer.

Você vai. Maristela lhe leva no velho Fiat 147 do finado marido até uma lanchonete perto da delegacia e você pergunta como ela ficou sabendo que ele tava preso.

Ela enrola um cacho louro pela metade e diz que ouviu o instrutor rindo. Diz que não se aborreça mas ela tá muito feliz com a separação. Diz que se apaixonou por você desde que você trocou o pneu do Fiat, logo depois que o marido morreu. Mas não ia fazer nada porque sabia que você é homem direito e nunca ia desmanchar um lar, mesmo que sua ex fosse uma biscate e tivesse um caso com o Abílio da oficina, que anda até dizendo que vai mandar matar o instrutor.

Maristela segura sua mão. Diz que te ama e quer ser a pessoa pra quem você canta as músicas de Waldick Soriano na noite do karaokê. Pede que lhe dê um tempo que ela vai lhe conquistar e promete fazer aquela salsicha com molho de tomate que você gostou tanto quando ela levou pro churrasco da reforma da laje da sua casa.

7. Siga seu Rumo — Pimpinela

Depois de um tempo relativamente curto de luto e romance, você se muda para a casa de Maristela e planeja se mudar com ela de lá pra não ter mais que olhar para a cara da Desgraçada, que finalmente montou uma banda de forró e está passando o dia ensaiando e você precisa ouvir a voz dela o dia todo, e o barulho é horrível.

Uma noite você escuta um barulho e acorda. Maristela lhe diz que volte a dormir que não é lá. Você diz que vai verificar. Você abre a porta da frente armado de um ciscador e vê a Desgraçada jogando as coisas do instrutor, que agora é cantor de forró com ela, na rua, e volta pra dentro de casa pra se deitar do lado da sua loura, só que agora ela retocou a raiz.

Você dorme de conchinha com ela, sentindo aquele cheiro do perfume da Avon que ela sempre usa e fica nas suas camisas enquanto você sai todos os dias pra convencer as pessoas que Telexfree é a oitava maravilha do mundo, você já recebeu duas vezes o que investiu e está até numa moto melhor que a que tinha e exibe orgulhoso a Honda Bis.

No dia seguinte, enquanto Maristela lhe serve um pingado, a porta bate e é a Desgraçada pedindo pra voltar. Você ri. Você diz que não. Lembra de tudo o que você passou e se segura pra não enfiar a mão na cara dela.

E então você diz tudo o que passou por conta dela e manda ela ir atrás de outro besta, porque hoje é você que não a quer mais.

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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