Tchê, me perdoa, Guri!

Em 1990 ouvi pela primeira vez a canção cujo título tomei emprestado para este post. Foi o ano em que Gaúcho da Fronteira lançou o disco (nem sei se era LP ou CD) Gaitaço, cuja faixa que eu acho que ficou mais famosa — até por ter sido regravada pelos Engenheiros do Havaí — foi Herdeiro da Pampa Pobre.

Hoje, entretanto, um bocado melancólico por conta de um acesso súbito de saudade de meu pai (desencarnado em 6 de janeiro deste ano), lembrei desta faixa que é de uma beleza fora do comum; quando eu a ouvi pela primeira vez — tinha apenas 17 ou 18 anos — não poderia imaginar que praticamente vinte anos depois ela faria ainda mais sentido.

Apenas para explicar o link entre a música e a saudade de meu pai: de repente dei-me conta que eu achava que teria a eternidade inteira para aproveitar da companhia dele. Parece que aos 61 anos — idade em que ele se foi — ainda era o mesmo pai que conheci quando nasci. Entretanto, quando ele se foi dei-me conta que quem não viu o tempo passar para esse pai foi justamente o menino de quem eu achei que havia me separado sem nunca ter deixado de sê-lo.

Assim, fica esse post — quiçá diferente dos que costumo fazer aqui — como uma tripla homenagem: ao meu pai, a quem devo tudo o que sou; ao guri que fui, sou e serei para sempre; e àqueles que fazem com que minha vida valha a pena.

Tchê, Me Perdoa Guri

(Gaúcho Da Fronteira)

Tchê, me perdoa guri
Se te deixei e cresci
Te trocando pela lida
É que pra sobreviver
Fui obrigado a crescer
Acossado pela vida

Não, não fica triste guri
Se te deixei e cresci
Trocando o peão pela pá
Por ser enteado da fome
Eu fui brincar de ser homem
Sem ter tempo de ser piá

Hoje tu vives assim
Correndo dentro de mim
No teu potro de taquara
Não, não me incomoda guri
Não vou te deixar sair
Pois o tempo nos separa

Tchê, me perdoa guri
Se te deixei por aí
Sem infância pelos campos
Por isso sou desse jeito
Tu te agitas no meu peito
Quando vejo os pirilampos

Não, não fica triste guri
Porque agora já cresci
Conheço toda a verdade
Por mais que a gente envelheça
E o guri perdido cresça
Sempre fica uma saudade

Mas por mais que te repreenda
Que te sufoque e te prenda
Neste dolorido encilho
Quando, quando o dia chega ao fim
Tu sais de dentro de mim
E vens brincar com meu filho

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Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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