“Ame-a ou Deixe-a:” real ou falso?

Um dos programas de maior sucesso da rede de tevê HGTV, “Ame-a ou Deixe-a” (Love It or List It no original em Inglês) pode não ser exatamente tão realista quanto os fãs gostam de pensar que seja.

Se você já assistiu a um episódio de “Ame-a ou Deixe-a” já conhece a estrutura de todos os episódios do programa:

  1. Um casal tem uma casa com problemas precisando de reformas.
  2. Um dos dois quer ficar na casa, e acredita que a reforma será suficiente; o outro quer mudar-se para uma nova propriedade, não importa o quê.
  3. Um corretor de imóveis com bons contatos e uma arquiteta talentosa entram em cena, numa espécie de “disputa” pela decisão final do casal (ficar na casa ou vendê-la).
  4. Cada um dos dois recebe uma lista de desejos (para mudar e para ficar na casa) e um orçamento com que trabalhar.
  5. O corretor de imóveis mostra três casas para o casal, sendo que uma delas é exatamente o de que eles precisam.
  6. A arquiteta encara o desafio de renovar a casa, enfrentando todo tipo de problemas inerentes a uma construção antiga, estouros de orçamento, má vontade, etc.
  7. No fim, a casa fica linda, e o casal tem a difícil missão de decidir se vai ficar com a casa ou colocá-la à venda para mudar para o imóvel novo.
  8. No fim, arquiteta e corretor vão juntos comemorar o resultado do episódio, não poupando alfinetadas um no outro.

O que tem de verdadeiro no programa

Seria de extrema ingenuidade imaginar que um programa de televisão — mesmo que qualificado como Reality Show — pudesse ser realmente autêntico, sem um roteiro bem definido, e que todo o desenvolvimento de cada episódio ficasse ao sabor do acaso.

Não apenas o esquema acima descrito comprova que há um script a ser seguido, mas o próprio sucesso do programa (que tem versões em diversos países) já transparece que trata-se de um produto bem conduzido e bem trabalhado.

Mas, ainda assim, existem aspectos incontestavelmente verdadeiros no programa.

Por exemplo: s pessoas que se inscrevem para o programa realmente têm alguma necessidade, mais ou menos urgente, mais ou menos importante, de renovar a casa; os casais também têm o desejo mais ou menos evidente de encontrar um novo lar em vez de encarar os desafios de uma reforma, e têm conflitos emocionais mais ou menos intensos relacionados a estes sentimentos e desejos.

Verdadeira também é a ansiedade dos proprietários com os rumos que a reforma vai tomando, com os gastos imprevistos, com a necessidade de mudar-se de sua própria casa enquanto a obra não está totalmente acabada.

Da mesma forma, a reação das pessoas ao visitar a casa pronta e absurdamente linda é verdadeira, o encantamento com sua nova casa de revista é real.

O que tem de encenado em “Ame-a ou Deixe-a”

Agora, o script do programa meio que exige que os proprietários (e o elenco fixo do programa) finjam algumas coisas.

Por exemplo, a produção do programa encoraja o casal a discutir e entrar em conflitos por causa da decisão de mudar ou de ficar; as pessoas são estimuladas a demonstrar para a câmera situações de animosidade que talvez nem existam.

Da mesma forma, nem todos os problemas que a arquiteta encontra durante a obra são reais: algumas reformas transcorrem tranquilas, sem imprevistos, mas alguns incidentes são encenados para adicionar emoção à atração.

Assim como alguns problemas são inventados, nem todas as casas que o corretor de imóveis mostra estão sequer à venda, realmente; podem ser apenas cenários elaborados para adicionar verossimilhança à narrativa.

Aliás, não encontrei a confirmação para a informação, mas li por aí que Todd Talbot nem ao menos é corretor de imóveis: seu registro profissional é de ator e apresentador de tevê!

Agora, o que me parece mais decepcionante, depois de tudo, é que os participantes gravam os dois finais possíveis (ficando com a casa ou preferindo uma nova propriedade), e a produção é quem decide qual das duas versões vai ao ar. E isso até faz um certo sentido, pois se fosse realmente deixar pelo gosto das pessoas, todos quereriam ficar na nova casa fantástica, talvez até para não ter que encarar todo o estresse de mais uma mudança, depois de semanas ou meses sem nem poder entrar em casa.

Casos extremos

Se por um lado é bem aceito que a televisão precise de fantasia para cumprir seu papel de emocionar e entreter, por outro nem todos sabem que “Ame-a ou Deixe-a” também enfrenta problemas e processos judiciais por, de certa forma, enganar as pessoas.

O casal da foto acima é Jeanine Almeida e Norman Waine. Eles gravaram um programa em 2016, e o que foi ao ar mostrou um casal muito feliz com a reforma que a equipe do programa fez. Entretanto, não demorou muito a eles perceberem problemas que, segundo os próprios, põem em risco a segurança e o bem estar da família.

Uma das alegações do casal, na ação movida contra o canal e contra a empresa produtora do programa, é que o empreiteiro que aparece nos episódios (Kenny Gemmil, no caso) não é um empreiteiro de verdade e sim um ator!

Só para constar, parece que no fim das contas o casal acabou perdendo na Justiça, pois não conseguiu provar nenhuma de suas alegações.

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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