“Osmosis” do Netflix: vale a pena?

“Osmosis” é uma série da Netflix ambientada em Paris, num futuro próximo, que conta a história de pessoas cujas vidas são afetadas pelo mais novo aplicativo de encontros do mercado.

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Li em algum lugar, não faz muito tempo, que as produções da Netflix estariam usando IA (Inteligência Artificial) para “escrever” os roteiros, e que o filme “Bright”, com Will Smith, teria sido o primeiro a fazer uso dessa tecnologia.

Acho que as pessoas gostam de falar de inteligência artificial como uma coisa muito mais sofisticada do que realmente é, e até mesmo profissionais de computação muitas vezes não sabem diferenciar Ciência de Dados de Inteligência Artificial, não estando aptos a identificar onde uma começa e termina a outra.

Parte dessa confusão vem da própria indústria do entretenimento, que retrata inteligências artificiais como coisas maravilhosas, capazes de manter conversações em alto nível, em linguagem natural, induzindo raciocínios e tomando decisões como humano nenhum conseguiria.

Em “Osmosis”, a inteligência artificial tem um papel importantíssimo não apenas por ser o que garante o funcionamento do app de encontros quanto por ser parte importante da trama e dos eventos que conduzem até o final da temporada.

Osmosis e Black Mirror

É impossível assistir ao trailer de Osmosis e não fazer um vínculo imediato com Black Mirror. Felizmente, ao menos pelo que até agora se sabe, é só impressão; as duas séries não estão conectadas, nem estão no mesmo “universo”.

Embora use conceitos de ficção científica sofisticados (como nanorrobôs programáveis que interferem no cérebro das pessoas, só para citar um exemplo) a série na verdade trata de coisas bem mais próximas do dia a dia de todo mundo no planeta: amor, relacionamentos, traição, egoísmo, medo.

A condicionalidade do “amor”

Osmosis trata de alguma coisa que chama de amor. A premissa inicial é que as pessoas usuárias do sistema deles terão a chance de reconhecer sem erros o amor de sua vida. Além disso, caso sejam usuárias deles as duas pessoas — em momento algum a série fala de poliamor — podem criar uma conexão mental muito profunda, algo como se a USB dos Na’Vi evoluísse para uma versão wi-fi.

De fato, contudo, o que se vê são pessoas que não sabem reconhecer que estão vivendo com os amores de suas vidas, que não precisam de aplicativo nenhum, que já são amadas. Aí saem magoando quem amam, traindo e quebrando acordos em busca de algo que nem sabem o que é.

Solidão, egoísmo e desrespeito

Os personagens principais de Osmosis, além dos usuários cujas vidas se acompanham, são um casal de irmãos, ambos gênios cibernéticos (há controvérsias) com um passado bastante obscuro que lhes privou da capacidade de amar, de entregarem-se a um relacionamento.

A irmã do cara no passado reverteu uma doença cerebral degenerativa do rapaz usando um implante que fez com que seu cérebro “criasse” novos tecidos, ou mecanismos, ou sei lá o quê. Agora ela quer fazer algo parecido pela mãe dos dois, que está vegetando num hospital, vítima de uma doença também no cérebro.

O bicho começa a pegar mesmo é quando a moça resolve abusar da confiança dos pacientes do aplicativo, manipulando o cérebro deles e implantando memórias sem seu consentimento.

Vale a pena ver Osmosis?

Como tudo na vida, a resposta poderia ser um sonoro “depende”, mas vou aproveitar para dar minha opinião: sim, vale a pena.

Em primeiro lugar porque Osmosis faz uso da ficção científica para abordar temas palpáveis para qualquer pessoa.

Em segundo lugar, apesar de muitos erros de continuidade (esses me divertem) e das pontas soltas (essas me irritam), a série é bem feitinha, bem cuidada, e as interpretações são bem boas. 

Apesar de tudo, em alguns episódios a narrativa se torna um pouco chata, meio lenta. Mas como é para ver em casa, cada um com seus próprios critérios e no seu próprio tempo, isso é mais um ranço meu do que qualquer outra coisa.

Agora, apesar de eu ter achado a série boa (melhor do que um mero “ok”), acredito que assim como “Bright”, acima mencionado, o roteiro geral de Osmosis tenha sido decidido com base em alguma ciência de dados. Basta ver a quantidade de clichês e de elementos que, obviamente, não estão na obra por mero acaso, e sim porque há um grande número de pessoas que os aprecia.

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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