Resenha: A Autópsia

“A Autópsia” (The Autopsy of Jane Doe, no título original) é um filme de terror que se caracteriza pela fotografia chocante e por um roteiro que deixa mais perguntas do que respostas.

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Embora seja de 2016 acabei vendo A Autópsia porque ainda estou em lua de mel com o Amazon Prime Video. Eu não sabia o que esperar, já que no serviço de streaming da Amazon não há (pelo menos eu não vi) a informação sobre o gênero de cada produção.

Daí que eu comecei a ver o filme esperando alguma coisa como um episódio anabolizado de CSI e o que vi foi um filme de terror de visual chocante, diversos sustos, e um roteiro que deixa mais questões em aberto do que propriamente as explica.

Como eu nunca nem tinha ouvido falar desse título, minha escolha foi por ter visto que Brian Cox — um ator de quem gosto bastante — era um dos protagonistas, o legista Tommy Tilden.

A história começa com uma cena de crime numa cidade pequena no interior dos Estados Unidos: o casal, um empreiteiro (ou coisa assim) e uma moça totalmente desconhecida aparecem mortos na casa. Somente a moça não foi vítima de arma de fogo, e também é a única não identificada — por isso o Jane Doe (Maria Ninguém, numa tradução livre). O xerife então leva o cadáver da moça para os legistas e agentes funerários da cidade e encomenda a autópsia para o mesmo dia, se possível.

Austin, o filho, acaba pedindo para a namorada com quem ia ao cinema voltar mais tarde, porque não consegue deixar o pai trabalhando sozinho até tarde, e leva uma bronca porque está há dois anos adiando de contar ao velho que vai embora para outro lugar.

Aí as coisas realmente estranhas começam a acontecer: aparentemente o cadáver tem poderes malignos e consegue criar ilusões visuais e auditivas nas pessoas próximas, e com esse poder ela provoca um verdadeiro show de horrores — como se o fato de o cadáver aparentar estar morto há muito tempo mas não ostentar nenhuma ferida externa e nenhum rigor mortis (ou rigidez cadavérica) não fosse estranho o suficiente. Todas as lesões da falecida são internas, e nos olhos que são opacos.

No fim das contas, morre todo mundo, igual ao que aconteceu na casa do início do filme.

O que eu achei de A Autópsia

Tommy Tilden e sua nora Emma

Minha primeira impressão foi de que era um filme de médio para ruim, porém continuei pensando na história por tempo demais. Então mudei minha avaliação para “médio para bom”.

Acontece que fazer terror com um tema tão grotesco quanto uma autópsia pode ser fácil demais, ainda mais se considerarmos a riqueza de detalhes perturbadores que aparecem o tempo inteiro na tela.

Aliás, a primeira metade do filme vai muito bem, e até mesmo onde a violência não é explícita a fotografia é muito bem explorada: ângulos instigantes, insinuações, detalhes rápidos que fazem o espectador ter vontade de voltar alguns segundos para ver se aquilo aconteceu mesmo ou se foi só impressão.

Na segunda parte do filme, contudo, parece que o diretor trocou o roteirista por alguém para quem ele devia um favor, e o espectador fica mais para saber o que acontece do que por realmente estar interessado no filme.

Teorias de espectadores

A Internet tem algumas teorias interessantes sobre o filme, mas para não dar ainda mais spoilers não vou mencioná-las. Mas não posso furtar-me ao mister de dar a minha teoria sobre o roteiro (e que me perdoem os autores da obra).

Desde o começo o filme deixa claro que os Tilden não são a família feliz dos comerciais de margarina. Existe muita culpa, muita cobrança, e o jovem Austin parece ser o mais afetado pela situação deles.

Ao mesmo tempo que tem uma relação complicada com o pai, algo talvez meio mutuamente parasitário, Austin tem a namorada Emma que reclama que já faz dois anos que ele está enrolando e não dá jeito de contar ao velho que o casal pretende ir embora.

Já o velho Tommy tem problemas não resolvidos com a memória da esposa morta, aparentemente por suicídio (tudo indica que uma crise depressiva tenha culminado em suicídio).

As teorias de fãs por aí dizem que a Maria Ninguém é justamente uma manifestação da morta que quer vingar-se dos familiares que a deixaram morrer e não viram que ela precisava de ajuda. Mas eu me recuso a aceitar essa teoria como válida porque não me parece coerente que uma alma penada de um suicida tenha esse perfil com quem amava.

Na minha teoria quem tem problemas realmente graves é o rapaz, que culpa o pai pela morte da mãe, culpa a namorada por pressioná-lo a fazer algo que ele não quer ao mesmo tempo que não tem a coragem de contrariá-la. Quando o cadáver aparece ele entra em algum tipo de transe e começa a ter alucinações e a dissociar-se da realidade.

Minha teoria diz que ele despedaçou o gato, assassinou a namorada, torturou e esfaqueou o pai e no fim “resolveu” o problema todo cometendo suicídio. E aquele lance todo de bruxa, rituais macabros, lances paranormais, cadáver de 200 anos com aparência de fresco, tudo isso fez parte do seu delírio catártico que culminou na própria morte.

Considerações finais

Seja como for, A Autópsia é um bom filme, embora eu tenha ficado feliz por não gastar dinheiro para vê-lo no cinema. Recomendo.

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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