Pirataria põe filme na Internet um mês antes da estreia no cinema

A imprensa oficial anda noticiando que este caso não tem precedentes, e faltam-me dados para contestar, mas minha memória teima em dizer que já aconteceu antes. OK, talvez nos casos anteriores a antecedência tenha sido muito menor.

Falo do “vazamento” de uma versão inacabada do filme “X-Men Origins: Wolverine”, de que centenas de pessoas fizeram o download e viram desde seus computadores, na terça-feira — e olhe que muita gente achou que era uma pulha pelo dia dos bobos. De fato, um mês de antecedência, se considerarmos que a data de lançamento do filme, nos EEUU, é 1º de maio.

Naturalmente, a Fox, distribuidora da obra, não sabe como uma cópia inacabada do filme, adaptação dos quadrinhos, foi parar na Internet.

A cópia que vazou carecia de muitos efeitos especiais (em minha humilde opinião, um dos principais atrativos), e incluía trilha sonora temporária. Ou seja, bem diferente do que os expectadores do cinema vão ver.

Considerando que a “indústria” anda fechando sites de fãs de filmes e séries, e frequentemente constrangendo pessoas físicas, essa notícia vem como uma escarrada na cara dos estúdios. É comum que imediatamente após a estreia dos filmes nos cinemas surjam na Internet cópias feitas com câmeras portáteis (algumas com qualidade até bem aceitável, considerando-se o meio como são obtidas). Mas a disponibilização da cópia pirata antes da estreia é algo mais raro, principalmente porque demonstra que a própria indústria está contaminada com pessoas que não suportam mais o modelo tradicional de negócios de Hollywood.

Nem é preciso pensar muito para deduzir que os advogados dos estúdios têm passado horas e horas enviando cartinhas exigindo a retirada do filme das imensas redes de compartilhamento de arquivos, e muito mais ainda ouviremos os burocratas tentando mostrar serviço no grito.

Também podemos esperar por uma cabeça na ponta de uma lança na entrada de Hollywood, para ilustrar as punições exemplares para quem contraria os interesses dos fodalhões do pedaço, pois existem meios de se rastrear a origem de um filme pirateado antes do lançamento (quem quiser saber mais, pesquise por marcas d’água e esteganografia).

Garras por garras prefiro o Sid

Este episódio, contudo, convida a uma outra reflexão, que não é nova, mas da qual eu mesmo não vinha querendo falar por puro “sacocheísmo”.

Refiro-me ao fato de os estúdios tratarem os fãs de suas obras audiovisuais como potenciais criminosos, ignorando totalmente a paixão que faz com que as pessoas gastem os tubos para ir ao cinema, comprar camisetas, brinquedos, action figures, boxes de DVDs a que muitas vezes nem assistem mas fazem questão de ter na prateleira.

Essa mesma gente que se mata para botar na rede um episódio de uma série, para traduzir “de ouvido” e criar uma legenda sem cobrar nada por este trabalho, apenas pelo prazer de ver seus heróis brilhando nas telinhas.

Mas a esperança não morre.

Já há artistas disponibilizando sua obra gratuitamente na Internet, contrapondo mulas como o Elton John, que sugeriu o fechamento da Internet por cinco anos para resolver o problema da pirataria.

Já há mentes abertas agindo dentro dos estúdios, como esse corajoso que pirateou o Wolverine, atuando como vírus que vão destruir esse sistema podre que trata como ameaças aqueles que são a verdadeira riqueza, o verdadeiro mercado do seu negócio: os fãs.

Se eu fosse artista de cinema, músico, sei lá, eu morreria de medo de fechar um contrato com os estúdios: quem enxerga ladrões em todo mundo, só pode ser um grande pilantra enrustido.

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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