O que podemos aprender com “Criminal Minds?”

“Criminal Minds” (Mentes Criminosas) é uma série dramática da televisão americana, disponível no Brasil nos canais de TV por assinatura (no AXN tenho certeza; talvez algum outro exiba temporadas passadas) e no Netflix. É uma série muito bem sucedida, e ano após ano, desde 2005, vem agradando seus espectadores ao redor do mundo.

Não sou muito de assistir televisão, mas quando vi um episódio qualquer da série quis assistir tudo desde o começo. Sei lá, tenho uma “coisa” por filmes e séries de doido, como “Ilha do Medo” (que conta com Ben Kingsley, um de meus atores preferidos), e “Minds” me conquistou.

A série está agora em sua sétima ou oitava temporadas, e vou falar especificamente da primeira e da segunda. Em função disso, não creio que possa ser considerado spoiler o que vou dizer, mas se você não viu e tem planos de ver a série, pare de ler agora. Não vou falar de temporadas posteriores porque eu mesmo estou fazendo “maratonas” (assistindo a dois episódios por dia, um ou dois a mais no fim de semana), e recém comecei a ver a terceira temporada.

A primeira e a segunda temporada foram marcadas por perdas no elenco da série. Na primeira temporada, Lola Glaudini (agente Elle Greenaway) pediu demissão, alegando estar infeliz longe de casa. No final da segunda temporada foi a vez de Mandy Patinkin (agente Jason Gideon, um dos personagens principais) dar o fora. A justificativa do ator: “Criminal Minds” teria sido seu pior erro público, pois esse trabalho acabara com sua vida.

Acontece que “Minds” mostra o cotidiano dos agentes da “Unidade de Análise Comportamental” do FBI. É uma obra de ficção, e não um documentário, e os dramas dos personagens (os agentes) se misturam com os casos que eles precisam resolver a cada episódio. Segundo os criadores e roteiristas da série, é sobre estes personagens que cada roteiro é escrito.

Entretanto, Patinkin disse que estava saindo da série, e provavelmente nunca mais faria televisão (mas ele voltou, dois anos depois, em “Homeland”) em virtude de o quanto “Minds” era prejudicial à sua saúde emocional e aos seus valores espirituais: dia após dia, semana a semana, infindáveis assassinatos, estupros, insanidade.

Realmente, a série é assim, e mostra o que há de pior no ser humano. Em cada episódio há referências e citações a criminosos famosos dos Estados Unidos, crimes que ficaram sem solução, matadores em série que nunca foram capturados.

Vendo “Minds”, por exemplo, eu aprendi que uma pessoa pode cometer um crime e nunca ser pega caso ela planeje bem o suficiente para não deixar pistas nem conte nada a ninguém — mamão com açúcar para qualquer psicopata.

Também aprendi que muito mais do que eu pensava eu sou bem perturbadinho também: em vários episódios eu “adivinhei” o que os vilões fariam, em função apenas da empatia (colocar-me no lugar deles).

Por fim, aprendi que não é preciso assassinar famílias inteiras obrigando os filhos a verem a agonia dos pais antes de meter-lhes uma bala na cabeça para ser um doente filho da puta. Basta ser comentarista de blog de celebridade.

Em todos os blogs em que li a respeito da deserção do Agente Gideon (em função da insatisfação do ator que o interpretava) havia alguns comentários de pessoas apoiando a atitude de Patinkin, de preservar sua integridade emocional e seus valores espirituais, e dezenas de outros de imbecis destilando ódio contra o artista.

Comentários profundos como uma poça de xixi de mosquito, do tipo: “ele deveria devolver o dinheiro que ganhou”; “ele leu os scripts antes, e deveria cumprir o seu contrato”.

Infelizmente essa gente não entende que os atores são contratados por temporada, e que se o Mandy quis se mandar (OK, essa foi horrível) antes da terceira temporada, ele o fez porque podia fazer. E gente que não entende uma coisa simples dessa, a ponto de querer mandar no dinheiro do cara, que ele ganhou honestamente e com muita competência, jamais entenderia que seriados e novelas de televisão vão se transformando no decorrer do tempo. Ninguém tem scripts de vinte e tantos episódios escritos antecipadamente; da mesma forma, é de acordo com a receptividade do público, com o desempenho dos atores, com o humor do chefe, que os próximos episódios são elaborados, e que o futuro da série vai sendo construído. Seria impossível que alguém que lesse a sinopse da série e gravasse um episódio piloto pudesse saber o que realmente ela iria significar na sua vida.

Ninguém me perguntou nada, mas eu sou blogueiro justamente para dizer o que penso, sem precisar que ninguém me peça opinião. Então, para finalizar, manifesto todo meu respeito e suporte ao Mandy que foi fiel aos seus valores, aos seus sentimentos, e mandou um emprego que o fazia infeliz às favas. Alguém já viu fazerem isso antes?

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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