Mais música brega: paixão blasfema

Nessa minha fase de curtir música brega, acabei redescobrindo uma canção muito antiga, de Agostinho dos Santos, cantada pelo fabuloso Trio Irakitan: “Pecado”.

Pesquisei um bocado, mas não consegui achar o ano em que esta canção foi lançada, mas considerando que Agostinho dos Santos faleceu em um desastre aéreo em 1973, e que o auge de sua carreira — ao menos no que tenho registro mental — se deu entre as décadas de 1950 a 1960, imagino que seja deste período esta composição.

A música é deveras bonita. Veja a letra.

Eu não sei se é proibido
Ou se não tem perdão
Se me leva ao abismo
Eu só sei que é amor

E eu não sei se este amor
É pecado que tenha castigo
Se é fatal ou se muda o caminho
Do homem até Deus

Eu só sei que me envolve a vida
Como um torvelinho
Que me arrasta e me atira
Em seus braços, em cega paixão

É mais forte que o bem e que o mal
Que o credo e o destino
É mais forte que todo respeito
Ao nome de Deus

Mesmo sendo pecado eu
Te quero, te quero assim mesmo
Pois às vezes de tanto querer-te
Me esqueço de Deus

Considerando a época em que esta música foi composta, contudo, e levando-se em consideração uma suposta lenda a que me foi dado conhecer há alguns anos, fica mais fácil de entender por que o poeta foi tão dramático ao expressar seus sentimentos.

O que me disse certa vez um senhor da mesma geração que Agostinho dos Santos, é que esta música fora composta para um outro homem, razão pela qual o conceito de pecado, e de desrespeito a Deus, faz-se tão desconfortavelmente presente.

Hoje em dia uma letra destas, linda apesar das blasfêmias, não faria o menor sucesso, creio eu.

Primeiro porque — graças a Deus — o amor entre iguais já não precisa mais esconder-se ou temer as chamas do inferno. Se faltava alguém dizer, digo eu: nenhuma forma de Amor pode ser considerada pecado ou condenar quem ama à danação eterna; intolerância e ódio é que rendem o inferno.

Segundo, porque com a involução da espécie humana qualquer um que tente cantar afinadamente uma melodia harmoniosa e marcada pela rima e pela métrica será ridicularizado, para dizer o mínimo, pela legião amorfa de apreciadores de músicas que se cantam com voz esganiçada e modos de bandido.

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Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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