“As Vantagens de Ser Invisível:” leia o livro, veja o filme, não necessariamente nessa ordem

Quase todo ano aparece um filme de baixo orçamento metido a indie (agora que indie tá na moda) sobre gente que não necessariamente apareceria em um dos filmes regulares (lembram de Juno?) sobre loiras peitudas. Esses filmes normalmente fazem as pessoas sentirem alguma coisa bem superfaturada que faz com que elas acreditem que a coisa é muito maior do que é realmente.

Foi isso o que aconteceu com As Vantagens de ser Invisível, de Stephen Chbosky (criador da série Jericho, que ninguém viu).

É a história de um menino que perdeu o melhor amigo e escreve cartas para alguém que ele pegou o endereço com outra pessoa. Não sabemos quem. E são essas cartas que fazem o livro, elas contam o cotidiano do menino Charlie no ensino secundário, onde ele fica amigo do professor de literatura, e conhece a Sam (vivida no filme pela Emma Watson) e o Patrick (quem faz é o genial Ezra Miller, de Precisamos falar sobre Kevin) e todo o grupinho de pessoas invisíveis com quem eles andam.

Eu preciso dizer algumas coisas sobre o uso do termo invisível. Tenho visto comentários de pessoas achando que o menino Charlie não é invisível coisa nenhuma. Em virtude da impossibilidade de tradução literal, quem pegou o título original “The Perks of Being a Wallflower” fez o melhor que pode.

Menino Charlie não é e nem poderia ser invisível, já que é matéria e a luz não passa através dele. O uso do invisível aqui é porque menino Charlie não é exatamente popular, ele não é um dos que sempre aparecem nas dinâmicas normais das escolas americanas. A única pessoa da turma dele que é realmente popular e não invisível, é o Brad, o namorado do Patrick.

E é aquelas, vamos combinar que os populares não se orgulhariam tanto de uma amizade com o professor de inglês que vive dando tarefa extra como se fosse divertido fazer para o homem comum. Charlie não é comum, fica bastante claro que ele tem algum problema desde sempre, mas não chega a dizer exatamente qual. Sabemos sim que ele tem um trauma severo, e durante várias páginas a gente acaba atribuindo o trauma ao suicídio do amigo que não conhecemos. Só no fim do livro conhecemos a verdade sobre o trauma.

Como o livro é escrito em forma de cartas que o Charlie escreve, nós temos somente a visão dele das coisas, sendo que é uma visão de quem tem um trauma de origens profundas e consequências bem pronunciadas.

Charlie tem 15 anos e não sabia o que era masturbação e não tem noção alguma do conceito de sexualidade, pois não identifica sexo quando o vê e nem consegue parar o comportamento sexual com o qual não se identifica, nem que seja para não magoar o amigo.

De modo geral, o livro é mesmo muito sensível, a voz do Charlie é mesmo similar a alguém com trauma severo. Vai funcionar bem melhor se você viveu alguma coisa parecida ou se está naquela fase da vida em que há necessidade de encontrar significados, sentir-se parte de algo, tem amigos memoráveis ou só tem relacionamento ruim.

Inclusive, se você tem vários relacionamentos ruins, não consegue se livrar do seu namorado que nunca te amou-só-te-quer-praquela-hora-te-pega-vucovuco-vucovuco-e-vai-embora, e fica postando frases de efeito sem relação com a imagem com filtro do Instagram no Facebook, este é o seu livro de cabeceira. Vai sem medo.

Entre as razões de ter virado hit, podemos citar algumas frases:

  1. “Eu me sinto infinito” — diz o menino Charlie andando de carro com os amigos ouvindo música boa.
  2. “As pessoas aceitam o amor que elas acham que merecem” — sobre os relacionamentos errados e obsessivos que as pessoas mantêm sem conseguir parar.

Não é que seja um livro ruim, não é. Mas falta alguma coisa para ser mesmo tudo o que estão falando, acho que… história mesmo. A história do Charlie é o trauma. As outras coisas todas acontecem com os amigos, família e professor. Vai ver, porque ele é invisível.

Em tempo: o filme é bem melhor, já que o personagem é menos chorão. Mas o livro explica melhor todas as coisas e diz mais.

E é fininho, dá pra ler num engarrafamento.

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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