“A Culpa é das Estrelas” — Ou por que ignorar as fãs de One Direction?

De vez em quando acontece de eu ir passear numa livraria e um livro me chamar a atenção por razões completamente desconhecidas. Às vezes é uma bobagem na capa, um título engraçado, alguma coisa que me lembre uma outra coisa qualquer e pronto, nem lembro mais do livro.

E as vezes é um caso de a capa parecer simpática. Não simpática como testemunha de Jeová batendo na sua porta domingo sete da manhã, simpática tipo pão quente com manteiga e café fresco. Sabe?

E assim, eu sou uma pessoa preconceituosa. E sou uma pessoa desalmada e sem coração que não está exatamente no clima para ler livros escritos para adolescentes loucas de hormônios. Não.

Na idade de fãs de John Green eu não conseguia palpitações pelo KLB e não tive paixonites adolescentes que me façam ficar saudosa quando escuto alguma música de Bon Jovi, e não, eu não suporto Legião Urbana.

Então, eu via o livro na prateleira das livrarias, achava a capa simpática e pegava para dar uma folheada. Aí aparecia alguma menina de all star e camiseta escrito “eu coração One Direction” e desistia. E mesmo assim o livro não me largava.

Eu nem procurei saber do que se tratava, mas tinha todo aquele azul que não me deixava em paz. E tinha o título que parecia piegas e quase toda a pinta de ser mais uma bobagem dramática sobre gente sem nada (Bella Swan) na cabeça e estupidez disfarçada de gentileza (Edward Cullen).

Por que comprar? Por que não comprar? Comprei, né?

Comprei e demorou um tempão pra chegar. Enquanto não chegava, dei uma olhada no que se dizia do livro e fiquei super triste porque tinha um monte de blog coloridinho e cheio de glitter que dizia que o livro era um divisor de águas, que era lindo, apaixonante, perfeito e blá blá blá hormônios de leitores da Capricho. Desanimei.

O livro também não aparecia em nenhum blog de livros onde encontrava livros que eu tinha gostado de ler. Desanimei de novo. Só quem parecia conhecer John Green tinha uma estante cheia de livros com vampiros que não metem medo em ninguém e fazem vídeos mostrando a estante e só comentam que o livro é “lindo”.

E então eu recebi o livro e armei minha rede, encontrei aquele ângulo ideal de acomodação que exclui o mundo e abri a primeira página. Só consegui largar quando terminou.

A história é uma besteira, como eu estava achando que seria: uma menina conhece um menino e tem um monte de problema e os dois ficam juntos. Acrescente a equação o fato de a menina ter câncer terminal. Multiplique pelo fato de eles terem se conhecido num grupo de apoio a pacientes com câncer que estão em depressão.

Pensei que ia ser uma xaropada doce e melosa tipo Nicholas Sparks, que sempre precisa matar alguém para se sentir completo, mas não. As pessoas de John Green são muito mais do que personagens açucarados e sofredores que fazem tudo por amor porque só o amor constrói por favor plante uma flor ah eu tenho câncer e vamos todos morrer mesmo. Não.

As pessoas com câncer de John Green são reais e existem além da doença. Têm humor de câncer, uma coisa cáustica, ácida e quase negra que ensina que as coisas tendem a ir sempre além do que aparentam. E mesmo que as pessoas mais próximas não consigam entender, está lá.

Porque livro bom é assim, não acaba quando termina. Que nem os bons filmes, como as boas histórias, como o bom pão quente com manteiga e aquela xícara de café que você bebe com as pessoas que você gosta.

Se a culpa é mesmo das estrelas, jamais saberemos, mas é um livro para ser sentido, mesmo que você seja desalmada e sem coração que nem eu.

Administrador de sistemas, CEO da PortoFácil, humanista, progressista, apreciador de computadores e bugigangas eletrônicas, acredita que os blogs nunca morrerão, por mais que as redes sociais pareçam tão sedutoras para as grandes massas.

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